quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Relato de Parto Domiciliar e Nascimento do Ricardo

Antes de relatar o parto do Ricardo, gostaria de contar brevemente como foi meu primeiro parto, hospitalar, onde nasceu meu filho Henrique, dia 24/01/2011. Fiz questão de colocar as fotos dos 2 partos e a diferença de acolhimento, respeito e bem-estar é muito clara...

Minha 1ª gestação foi  em 2010. Fui muito determinada em relação ao PN, tinha na minha cabeça  que eu ia ter PN de qualquer jeito e nenhum GO ia me enrolar. Sem planejamento financeiro nenhum para o parto, pois não tinha noção de que não ia conseguir pelo convênio (só descobri  isso durante a gestação), acabei fazendo pré natal com GO tradicional que até então nunca se opôs ao PN. Achava que o fato de estar completamente determinada garantia meu PN. Não me informei sobre as intervenções, sobre o trabalho de parto, não tive preparação nenhuma para isso. Tinha medo de casa de parto, achava que “parto natural” era radicalismo. Entrei em TP com 40+6, fase latente que durou das 2:20 hs da manhã até as 20:00 hs mais ou menos e eu em casa tentando acalmar todo mundo que ainda não estava na hora. Fui pra maternidade as 23 hs, com contrações de 5 em 5 minutos, dores bem suportáveis, que na chegada ao hospital pararam e ficaram super irregulares. Super comum de acontecer, simplesmente não era hora ainda... se eu tivesse uma doula, e se tivesse me informado mais, teria ficado muito mais tempo em casa. Apesar disso, cheguei no hospital com 6 cm de dilatação. Minha médica avisou que não poderia ir e fui atendida pela plantonista. Nem liguei, seria meu plano B mesmo. Apesar das intervenções (ocitocina, rompimento artificial da bolsa, analgesia e episio) tive muita sorte de ter corrido “tudo bem” e ter tido um PN até que ”tranquilo” (tirando aquele soro do inferno, que quase morri antes da analgesia, olha foi por Deus mesmo para conseguir suportar, fiquei muito muito assustada,  judiada com aquelas dores da morte  e a frieza dos profissionais, que não eram nada acolhedores nem apoiadores).

Eu "atada" à maca, no cardiotoco...

1o. contato com Henrique... muito cansada e confusa com tudo.

Meu filho, em seus primeiros minutos de vida passando pelos procedimentos padrão do hospital...


Após o parto, sozinho no berçário... foi para o quarto 5 horas depois

Enfim, Henrique nasceu de parto e foi “tudo bem”. Mas ficou um vazio dentro de mim, uma falta de emoção, um buraco, não era aquilo que eu esperava. Sofria ao lembrar das dores que senti, chorava por algo que eu não sabia. Tive um baby blues forte e tenho certeza que começou pelo abandono que senti no parto.
Com o tempo, mergulhei  na busca do parto sonhado. Virei doula e educadora perinatal e uma ativista fervorosa, devoradora de informações e ciência. Eu PRECISAVA ter um parto, um parto de verdade, conhecer a partolândia. Não aceitava o fato de não ter vivido isso. Não aceitava ter me conformado com os protocolos, com o sistema, o fato de ter ficado umas 5 horas sem meu bebê após o parto, e saber de tudo o que ele deve ter passado longe de mim.

Minha 2ª. gestação durou 2 anos. Começou em 2011 nesse processo todo, já me sentia grávida, digamos que eu estava gestando uma gravidez, rs ... Sonhando com uma segunda chance, sonhando com uma experiência realizadora de verdade. Foi tudo sendo planejado com tempo e com muita vontade.
Meu 2º. Parto seria em Casa de Parto, por motivos financeiros. Não teria como pagar um PD. Mas motivos para ter um PD não faltavam e essa vontade foi crescendo em mim, comecei a me informar muito sobre o PD, amava os vídeos que via e decidi, eu quero. A escolha de tudo isso  e inclusive da parteira foi antes de estar grávida. Fui preparando meu marido que se mostrou um pouco resistente no começo, mas com muita informação consistente e empoderamento meu não foi difícil.
Enfim, fiquei grávida. Em fevereiro de 2013. Era o meu Ricardo a caminho. Não sei porque, eu achava mesmo que seria mãe de meninos. E assim foi. Era um sonho. Incrível como podia ser tão bom como a primeira gravidez e inclusive melhor. Mais madura, mais forte, mais preparada para tudo  e consciente das minhas verdadeiras escolhas. A realização de mãe eu já tinha. Agora seria a minha realização como mulher.
Logo no comecinho já comecei a fazer acompanhamento com a parteira, com quem eu  já mantinha contato antes da gravidez.
No começo, eu procurava “coisas certas” para ter um parto lindo, tranquilo, lidar bem com as dores. Pensava como tinha que respirar, qual posição era boa para isso ou aquilo, o que deveria fazer nesse ou naquele momento, etc. Com o tempo e com os partos que fui acompanhando como doula fui percebendo que o caminho não era esse.
Sou muito controladora e isso eu sabia que era ruim. Comecei por aí. Eu não precisava de respostas, modelos ou de protocolos. Eu precisava me desapegar deles. Desapegar de tudo. Tinha poucos medos. Não tinha medo da dor, por exemplo. Mas tinha medo de por algum motivo ter que transferir pro hospital. Tinha medo também de não aguentar um parto totalmente natural, perder o foco no meio do caminho. Um outro medo que eu tinha era de o parto ser rápido demais. Minha dilatação no 1º parto foi rápida até o momento que cheguei no hospital. A tendência do 2º. Parto é de ser mais fácil. Eu não queria um parto rápido. Eu queria casa arrumada, músicas, fotógrafo registrando desde os 1º.s momentos, meu filho Henrique participando, cada fase acontecendo como um filme que segue um roteiro. Afe. Que mania de controlar tudo. Apaga!!! Preciso me desapegar disso, foi o que coloquei na cabeça.
Então o que eu fiz com esses medos?   Simplesmente encarei da seguinte forma: não estão sob meu controle. Não sei o que vai acontecer. Não sei se precisará de transferência. A única coisa que eu poderei fazer para tentar evitar uma possível transferência é ficar calma e não perder o foco. E a dor, vou aguentar o tempo todo sem me desesperar? No meu 1º. Parto as dores foram lancinantes após as intervenções mas como saber como seria naturalmente? Sei que as intervenções judiam demais, então não tinha como comparar. Todas as mulheres foram feitas para parir, eu vou saber lidar com a dor, eu vou me preparar para isso, eu pensei. E quanto ao parto ser rápido, eu não queria principalmente pelo fato de não poder seguir um roteiro. Então deleta. Eu aceito um parto rápido. Vai ser como tiver que ser, o que não está ao meu alcance eu simplesmente tenho que aceitar. Calhou de eu ler um relato com a seguinte frase: “eu confio, eu entrego, eu aceito, eu agradeço”. Eu aceito a MINHA HISTÓRIA.


Como lidar com as contrações? Como respirar? Quais posições? O que fazer?
Preciso seguir meus instintos. Preciso me libertar do QUE e do COMO. Meu corpo vai saber o que fazer. Eu só preciso trabalhar recursos nele. Respirar. Focar mas ao mesmo tempo desprender. Deixar fluir. Então eu fazia minha aula de ginástica, que eu mesma montei utilizando minha bagagem de educadora física e doula, respirando, desligando, mentalizando, ao mesmo tempo que mentalizando, abstraindo. Tentando sentir meu corpo, sentir minha respiração, ouvindo minhas vontades.
Bom, a gestação VOOU sem novidades. Trabalhando como autônoma e com tantas funções (doula, educadora, acupunturista, consultora) e com um filho pequeno de 2 anos e meio, não sobrava tempo para ansiedades ou grandes expectativas. Eu não tinha pressa. Pelo contrário. Com um filho pequeno e tantas coisas boas acontecendo no trabalho eu até não queria que o Ricardo viesse antes. A DPP era 09/11. Então na minha cabeça não seria antes disso. Se fosse, seria uns 3, 4 dias.
Passo muito bem as gestações. Meu histórico com atividade física me dá um condição privilegiada. Sem dores, sem cansaço, sem mal estar. Doulei forte até 36 semanas. E depois continuei com as outras atividades que não são poucas. Ia parar com 39 semanas, porque ainda tinha algumas coisas que eu queria fazer para o Ricardo e não tinha dado tempo.
Ricardo sempre foi muito ativo na barriga. Diferente do Henrique que quase não se mexia. Ricardo parecia um macaquinho pra lá e pra cá, me dava cada golpe que as vezes eu até gritava rs. Fazia aqueles bolos, aqueles bicos na barriga o tempo todo.
No domingo dia 27/10, 38+1 semanas eu acordei tão cansada, estranha. E fazia uns dias já que notava o Ricardo bem mais quietinho. Mas ao mesmo tempo eu não sentia nada demais, mas não sei porque a partir desse dia alguma coisa estava diferente. Não sei explicar. Mas não levei muito em conta, trabalhei normalmente e inclusive coloquei uma meta de resolver tudo pendente até o final de semana, quando seria 39 semanas. Naquela semana era como se eu estivesse ilesa de algo acontecer.
As vezes eu ficava com medo disso “segurar” o Ricardo. Será que eu estava com medo dele nascer?  Então eu falava para ele: “ pode vir a hora que você quiser, a hora que estiver pronto. Será muito bem vindo, estamos te esperando. Estou esperando muito por esse momento.”
30/10, 4ª feira, 38+4
Dia normal, agitado. Dei uma aula cedinho e depois fui pra casa, rotina intensa com o Henrique, até que a tarde ele foi pra escola e eu COMECEI a fazer as lembrancinhas de nascimento.  Depois peguei ele na escola , levei na minha sogra e fui dar 2 aulas a noite.
Na última aula, minha aluna perguntou:
- Você não sente nada de diferente?
- Não! Não sinto nada, nada...
A aula estava quase acabando, era 21:20 hs, de repente senti um pouquinho de líquido escorrer na calcinha. E logo em seguida mais um pouco, bem quentinho. Pensei: hã???
Entrei no banheiro para olhar. Mal fechei a porta, escorreu um tantão. Não tive dúvidas, era a bolsa! Nem olhei... Saí do banheiro, falei pra minha aluna e pra professora que iria me substituir nas aulas e aí foi aquele choque rs. Eu estava calma, mas meu coração disparou. Eu não estava preparada para aquele momento... rs Como assim?
Não esperava realmente... foi um misto de expectativa, ansiedade, adrenalina, e aquela sensação: ai meu Deus, é agora J
Expliquei para elas que estava tudo bem, tudo sob controle, que era assim mesmo e a única coisa agora era esperar o tp começar. Tudo com tranquilidade.  Falei inclusive que  poderia demorar mais de dias com bolsa rota, mas que, não sei porque, eu achava que logo ia começar.
Liguei  para a minha parteira, Karina. Avisei. Ela pediu pra eu checar a cor do liquido e ver a movimentação do bebê. Tudo ok, então vamos esperar. Ela teria uma viagem no dia seguinte de manhã! Ai não me mata do coração Karina, pelo amor de Deus. Ninguém mesmo estava contando com esse adiantamento do Ricardo rs.
Tinha um único problema. Não parava de escorrer, molhou toda minha calça. Era quase 22 hs da noite, meu marido tinha acabado de ir para o jogo do São Paulo no Morumbi (detalhe: de carona com amigos), e eu precisava buscar meu filho na minha sogra. O problema? Meus sogros não podiam saber da bolsa rota. Não sabiam do PD e eu não queria que soubessem de nada que estivesse acontecendo naquele momento pois isso poderia comprometer tudo o que eu tinha planejado e fazia questão em relação a privacidade e tranquilidade desse momento.
Minha aluna me emprestou uma calça, fui no banheiro. Sentei no vaso e saiu litros. Esperei parar e levantei. Saiu mais. Afe. Vaso de novo, saiu mais líquido. Levantei, saiu mais. Não parava. O tempo passando e eu PRECISAVA buscar meu filho, antes que eles começassem a achar estranho a minha demora. Catei uma toalha no banheiro e enfiei no meio das pernas, quando saí do banheiro era só risada. Tirei minha blusa, amarrei na cintura e fui com a  cara e a coragem.
Cheguei lá e meu filho na maior agitação, Deus do céu. É hoje que eu piro. Ainda quis ficar brincando de esconde esconde comigo e eu querendo fugir dali o mais rápido possível rs.
Bom, consegui! Consegui até conversar um pouco, disfarçar, relaxei. Bom, bora pra casa.
Cheguei em casa 22:50 hs. Liguei para o fotógrafo, que era meu irmão e viria de Itatiba para cá. Falei pra ele ficar esperto, mas esperar o 2º. Chamado, porque ainda não tinha começado nada. Liguei para o meu marido que estava no jogo do SP. Avisei: “olha amor, estourou a bolsa. Mas está tudo bem. Não precisa vir ainda para casa, qualquer coisa te ligo daqui a pouco.”
Percebi que ele ficou meio mudo, meio sem resposta. Daí ele falou: me liga, então.
Um parênteses aqui: ( Fui SUPER criticada por ter sido assim tão calma. Como assim falar pra ele que não precisava vir pra casa ainda?? Eu explico 5 coisas: 1) Eu não estava sentindo nada. 2) Poderia demorar muitas horas para sentir. 3) Ele estava de carona, imagina tirar um bando de fanáticos do estádio ainda no início do jogo, para trazê-lo p/ casa? 4) Só eu para saber o quanto ele leva a sério esse negócio de futebol.  5) sim, eu sou MUITO calma mesmo. Afe.
Isso era 22:50 hs. Comecei os preparativos para colocar o Henrique para dormir. Nisso comecei a sentir umas cólicas. E no meio dessa “correria” (o que eu mais queria era fazer ele dormir o quanto antes e ainda ter tempo de tomar um banho, comer alguma coisa, separar o que faltava e quem sabe até dar uma relaxada. Mas não sei porque eu pressenti que eu teria que agir rápido pois parecia que eu não teria tempo de nada), eu não conseguia marcar o tempo de intervalo, mas parecia que estavam bem frequentes e de colicazinhas leves começaram a ficar incomodativas. Mas isso foi de um instante para o outro. Parei para ligar pra Karina, parteira.
- Ká, começou e estão vindo com poucos intervalos.
- Bom, vamos fazer assim, vou pegar minhas coisas e vou para aí. De qualquer forma já te examino e dá pra gente ter uma ideia como está. Ela falou.
E eu “correndo” com o Henrique.
23:20 Finalizando a escovação de dentes, começou a apertar a dor. Liguei pro Edu.
- Amor, vem pra casa. Estou sentindo dores fortes.
- Já saí do estádio faz tempo.
- Ahh! Que bom!! Então corre, vem logo.
Liguei também para o meu irmão, fotógrafo. Pode vir, falei pra ele. E pedi para chamar minha mãe. Ela veio no telefone, e eu chamei ela também. Ela perguntou:
- Quanto tempo mais eu tenho para sair?
- Mãe, pega suas coisas e VEM. Não vai arrumar mala agora. VEM LOGO.
Bom, 20 minutos fizeram toda essa diferença. De um estado de calmaria total que eu estava passei a ficar meio tensa. Somente pelo fato de estar sozinha em casa com o Henrique e as contrações não estarem dando muita trégua e eu ainda precisando fazê-lo dormir e queria entrar no chuveiro.
Falei pro Henrique deitar na cama. Ele foi um anjo, deitou direitinho. Na mesma hora veio a contração forte. Uh! Ajoelhei no chão e debrucei na cama, ele quietinho olhando. Respirei e gemi baixinho. Respirando e gemendo. Respirando e gemendo. Ele perguntou o que era e eu falei: Filho, acho que o Ricardo está querendo nascer.
A hora que passou a contração ele estava profundamente adormecido. Um anjo passou ali e eu presenciei.
Fiquei um tempinho ainda ali ajoelhada. Sabia que em breve viria outra contração.
Liguei para a Karina novamente.
- Ká, está MUITO FORTE. Está vindo muito rápido.
- Estou chegando Má. Em meia hora eu chego.
Ouvi barulho na porta. Era o Edu chegando, ufa. Era quase meia noite.
- Edu, enche a piscina.
Precisava encher de ar ainda, e depois de água. Cheguei a pensar: não vai dar tempo. Mas como poderia estar tão rápido assim? Como poderia um TP mal começar e já estar no final?
Tive medo de ainda estar no começo e forte assim. Se for começo não vou aguentar! Se for começo vou precisar da piscina.
Falei mais 2 coisas pra ele. Pegar uma sacola que estava separada com as coisas p/ o parto (lençóis, toalhas, cueiros, etc). Detalhe: tinha providenciado isso na noite anterior. E tinha me depilado na noite anterior também. E pra ele pegar um top para mim.
Entrei no banho. Queria lavar o cabelo, mas sem chance. Consegui passar um sabonete no corpo e só. As contrações vinham fortes. Eu tentava me acalmar, respirava, e entoava um “aaaaaaaai”, um gemido bem baixinho junto com a respiração. A água caindo na lombar, era onde doía mais, eu em pé, com as mão apoiando na parede na minha frente e tentando mexer o quadril, rebolar, na hora da contração. Com as paredes molhadas, minhas mãos começaram a escorregar na parede na hora em que eu apoiava forte. Tentei ficar de joelhos e me pareceu péssimo, levantei de novo.
Não tinha um apoio bom ali, agarrei no fecho da porta do Box e fiquei.
Meu marido enchendo a piscina na sala, e de vez em quando perguntava alguma coisa para mim, gritando de lá. Como se eu pudesse responder, rs. Como eu não respondia ele veio no Box, perguntou alguma coisa e quando eu consegui, respondi: “Não fala comigo”. Kkkkkk
Comecei a sentir uma pressão bem no cóccix e uma vontade de fazer cocô (depois que a bolsa estourou eu fiz umas 3 ou 4 vezes), não era possível que eu já estava sentindo os puxos? Seria mesmo? Fiquei com medo de fazer força, mas fiz um pouco e vi que aliviava. Era isso mesmo. Cadê a Karina?
Eu falava com o Ricardo: pode vir filho. Me ajuda que eu te ajudo. Estou te esperando, vc vai ser muito bem vindo. Vem Ricardo, vem meu amor, pode vir.
E vinha as dores e uma música que cantei a semana toda  vinha junto bem nessa hora, e eu cantava mentalmente e respirava. Gemer já não era bom mais.
00:50
Ouvi gente chegando. Era a Karina e a Isa, as parteiras. Que alívio, que sensação boa de tê-las aqui. A Karina veio no Box e eu falei que estava muito forte. Ela disse que devia estar quase nascendo. Mas eu as vezes ainda duvidava disso. Como podia?
Ela pôs a banqueta e eu sentei. Foi péssimo na hora, mas também não tinha mais como levantar. 

Doía muito e eu tentava lidar com a dor. Ela olhou para mim e me falou com uma voz muito doce e firme: “Má está tudo bem. Fica tranquila.Respira para ele”.
Eu respondi concordando com a cabeça: sim, eu sei. Como se dizendo: obrigada Karina, por me lembrar, você tem razão, está tudo bem. Obrigada por me ajudar a não desconectar.
Um parênteses cai bem aqui: (Como é importante esse apoio, simplesmente esse olhar firme e essa segurança que nos traz de volta à realidade e nos ajuda a ter força, a acreditar na nossa força e na nossa capacidade. Como doula, pari junto muitos bebês também. E agora parindo pude sentir a força que esse apoio nos dá nessa hora.)
Ela examinou. Eu senti na hora os dedos dela abrindo para medir a dilatação do colo. Como se eu mesma tivesse tocado, parece que visualizei  o tamanho e pensei, bom, dilatação tem.
- Está com uns 8 – ela falou.
Foi um alívio mas então ainda faltava. Não estava nascendo.
- Mas Karina estou com muita vontade de fazer força.
- Então pode fazer.
Fiz umas 2 ou 3 vezes, ela tocou novamente e falou que a cabecinha já estava saindo.  Falou pra eu sentir. Coloquei o dedo e senti. Então fiz força nas próximas contrações e muito rapidamente comecei a sentir o círculo de fogo.
O Edu estava ali no banheiro, tirando fotos  e vídeos improvisados.

Me concentrei no círculo de fogo. Não era tão ruim assim. Eu estava sem apoio, pés descalços escorregando, mãos sem ter onde segurar. Apoiei na Karina e fiz força. Não foi tão dolorido, nem foi a maior força da minha vida. Senti ele escorregar. Não acreditei.
Ricardo veio para mim, rosado e todo cheio de vernix. Lindo. Cabeludinho. Veio chorando, já saiu chorando. Aninhei e só falava: ai filho, ai filho... meu amor, vc veio.
Nesse exato instante, o fotógrafo chegou. rs

Foi algo grande demais para ser colocado em palavras e até mesmo em pensamento.
Foi uma sensação de êxtase, plenitude, realização. Foi muito maior do que eu imaginava. Muito mais intenso. Não de dor. De emoção. Foi tão melhor do que sequer eu poderia ter escolhido. Foi perfeito, do início ao fim.
Logo em seguida fiz uma forcinha e a placenta fez ploft no chão.
Falei, ainda no Box: “obrigada Deus, que benção. Eu queria tanto passar por isso! Karina, que aventura!!! Como você aguenta?!” rs

 
Dia 31/10/2013 à 01:15hs Ricardo nasceu e eu vivi a MELHOR, mais linda, intensa e ao mesmo tempo sublime experiência da minha vida

Depois que pegaram ele para limpar, eu fui para minha cama. Teve uma laceraçãozinha pequena, que nem se comparou à episio que tive, óbvio. Nem senti incômodo dessa vez. Ricardo voltou para mim. Mamou o tempo todo. Fiquei lá lambendo a cria e pensando, que coisa louca, que experiência maravilhosa.

Que coisa tão infinitamente diferente, sem a menor possibilidade de comparação com aquele hospital, aquele parto mecânico, frio, aquele ambiente estéril e impessoal. Que dó... de mim, do Henrique, de tantas mulheres que não sabem o que perdem em suas vidas.
Não tive fotógrafo. Não tive roteiro. Mal deu tempo de assimilar. Mas foi tão mágico.
Meus filhos vieram só para me ensinar coisas boas, me fazer aceitar os desafios, crescer, me tornar uma pessoa melhor , me ENTREGAR para o que eu acredito.
Agradeço tanto, tanto, tanto. Sempre quis ter 3 filhos, não sei se terei. Mas se não tiver, agora sinto-me completa, realizada,  renascida.  Estou jorrando litros de ocitocina.

Vídeo do meu parto domiciliar:



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